The Unpromptable Ideas: o fator humano na era da IA

A inteligência artificial, impulsionada por ferramentas como o ChatGPT, revolucionou a forma como trabalhamos, automatizando tarefas e otimizando processos em uma escala sem precedentes. 

No Marketing, essa transformação é ainda mais palpável, com a IA prometendo eficiência, personalização e alcance massivo. No entanto, em meio a essa onda de inovação, surge uma questão fundamental para nós, líderes de Marketing: e aquelas ideias verdadeiramente originais, disruptivas, que parecem “não-solicitáveis” por um simples prompt de comando? 

Para mim, ir além da automação básica é essencial para a inovação. Neste artigo, busco te informar, inspirar e persuadir que, embora a IA seja uma ferramenta poderosa, a verdadeira vantagem competitiva no Marketing reside na nossa capacidade humana de gerar ideias originais e criar conteúdo com “alma”.

Engenharia de prompt: a habilidade essencial na era da IA

A engenharia de prompt, muitas vezes vista como uma mera técnica para interagir com a IA, é, na verdade, uma competência estratégica para líderes de Marketing na era da inteligência artificial. Dominar a criação de prompts complexos e contextuais é o que diferencia o uso básico da IA de seu uso estratégico para gerar valor real. 

Não se trata apenas de saber “o que perguntar”, mas de “como perguntar” para extrair o máximo potencial da máquina. Um prompt bem elaborado é um catalisador para insights, permitindo que a IA vá além da replicação de padrões e comece a nos auxiliar na exploração de territórios criativos mais ricos. 

É a ponte entre a intenção humana e a capacidade computacional da IA, transformando uma ferramenta em um parceiro estratégico na busca por diferenciação e inovação.

Calendário de Conteúdo

O que a IA faz bem (e onde ela falha)

A inteligência artificial brilha em diversas frentes, mas também possui limitações inerentes que precisamos compreender para um uso estratégico

A IA é incomparável em sua capacidade de processar grandes volumes de dados, identificar padrões e automatizar tarefas repetitivas. Isso se traduz em eficiência operacional massiva. Ela pode gerar milhares de variações de um anúncio em segundos, otimizar campanhas em tempo real e personalizar comunicações em escala individual, algo impensável para equipes humanas. 

Casos como o da Michaels Stores, que utilizou a IA para personalizar milhões de e-mails para seus clientes, resultando em um aumento significativo nas taxas de abertura e conversão, demonstram o poder da IA em entregar personalização em massa e impulsionar resultados tangíveis. 

A capacidade de analisar o comportamento do consumidor e adaptar mensagens de forma dinâmica é um divisor de águas para o Marketing moderno.

Apesar de suas forças, a IA opera com base em dados existentes. Seus modelos são treinados para identificar e replicar padrões. Isso, por um lado, garante consistência e otimização. Por outro, leva a um risco inerente de homogeneidade

Quando todos os profissionais de Marketing utilizam as mesmas ferramentas de IA, alimentadas por dados semelhantes, as saídas tendem a convergir. O resultado é um “mar de semelhança”, onde as marcas perdem diferenciação, e o conteúdo se torna previsível e genérico. A originalidade, que antes era um diferencial, pode ser diluída em um oceano de otimização algorítmica.

A IA é uma mestra do pensamento convergente. Ela é projetada para encontrar a “melhor” solução dentro de um conjunto de parâmetros definidos, otimizando para um objetivo específico com base nos dados que possui. Ela é excelente em refinar, melhorar e escalar o que já existe. 

No entanto, a IA não é intrinsecamente capaz de quebrar padrões, de desafiar a lógica estabelecida ou de propor algo radicalmente novo que não tenha precedentes em seus dados de treinamento. Ela não possui intuição, senso de humor, ou a capacidade de fazer conexões inesperadas que são a base da criatividade disruptiva. 

É nesse ponto que a lacuna entre a capacidade da máquina e a genialidade humana se torna mais evidente.

O superpoder humano: a ideia não-solicitável

Em um mundo saturado por conteúdo gerado por IA, a verdadeira moeda de troca no Marketing se torna a “unpromptable idea”.

Uma “ideia não-solicitável” é um conceito estratégico que a IA não pode gerar porque ela quebra convenções, usa o contexto do mundo real de maneira inesperada e provoca inteligentemente. 

É a faísca de genialidade que surge da compreensão profunda da cultura, do comportamento humano e da capacidade de desafiar o status quo.

Características:

  • Quebra da convenção de categoria: ignora as regras implícitas de como uma categoria de produto ou serviço deve se comunicar;
  • Provocação estratégica: utiliza o humor, a ironia ou o desafio para gerar conversas e engajamento;
  • Multiplicador elevado de mídia espontânea (o poder do “eco digital”): gera tanta repercussão que a mídia tradicional e as redes sociais a amplificam organicamente, multiplicando o alcance sem investimento direto.

Estudos de caso exemplares:

Burger King “Whopper Detour”: 

Esta campanha genial transformou o McDonald’s em um ativo. Ao oferecer um Whopper por um centavo para clientes que estivessem a 600 pés de um McDonald’s e fizessem o pedido pelo aplicativo do Burger King, a marca não apenas impulsionou downloads de seu app, mas também gerou um buzz gigantesco, utilizando a localização de seu principal concorrente a seu favor. 

Imagem promocional com logo do filme 'The Whopper Detour', mostrando o icônico arco dourado da McDonald's ao fundo e céu azul com nuvens, divulgado para marketing de hambúrgueres.

O ROI foi massivo, e a ideia era tão contraintuitiva que nenhuma IA a geraria.

Sensodyne “Limpa Placas”: 

Em uma categoria dominada por promessas de alívio da sensibilidade, a Sensodyne quebrou a convenção ao introduzir o conceito de “limpeza de placas” para um creme dental para sensibilidade. 

Campanha Sensodyne  "limpa placas. Funcionária de limpeza utilizando uma vassoura para limpar uma placa de sinalização em uma rua fechada, com prédios de fundo, durante a noite.

Essa mudança de foco, combinada com uma comunicação clara e educativa, reposicionou o produto e o diferenciou da concorrência, mostrando uma compreensão profunda das necessidades e preocupações dos consumidores.

State Street “Fearless Girl”: 

A estátua de uma menina desafiadora em frente ao touro de Wall Street, encomendada pela State Street Global Advisors para promover a diversidade de gênero em conselhos corporativos, é um exemplo de simbolismo, provocação e impacto cultural. A obra não apenas gerou uma discussão global sobre igualdade, mas também se tornou um ícone, demonstrando o poder da arte e da mensagem para transcender o Marketing tradicional.

Fearless girl. Criança observando a escultura do touro da bolsa de valores em Wall Street, Nova York, na rua com prédios ao fundo, em uma foto em preto e branco.

Essas ideias vêm do insight humano, da compreensão de risco e humor, e da quebra de lógica tradicional. A IA, por sua natureza, busca otimizar dentro de parâmetros existentes. 

Ela não possui a capacidade de fazer as conexões inesperadas, de sentir o pulso cultural ou de assumir os riscos calculados que são a base dessas unpromptable ideas. Elas nascem da intuição, da experiência vivida e da capacidade de ver o mundo de uma forma que transcende os dados.

O coração da conexão: conteúdo com alma

Além da ideia disruptiva, a capacidade de criar “conteúdo com alma” é o que verdadeiramente conecta marcas e consumidores em um nível emocional profundo.

“Conteúdo com alma” é uma comunicação que cria ressonância emocional genuína, que vai além da simples transmissão de informação. É o tipo de conteúdo que faz o público sentir algo, que o envolve, que o faz se identificar e que permanece na memória muito depois de ter sido consumido.

Características:

  • Empatia profunda: demonstra uma compreensão genuína das experiências, emoções e aspirações do público;
  • Narrativa autêntica (storytelling): conta histórias que são verdadeiras, que ressoam com a condição humana e que criam uma conexão emocional;
  • Ressonância cultural: toca em temas, valores ou tendências que são relevantes para a cultura em que a marca está inserida, criando um senso de pertencimento;
  • Construção de identidade e pertencimento: ajuda o público a se ver na marca, a sentir que faz parte de algo maior, a expressar sua própria identidade através do consumo ou engajamento.

Estudos de caso aprofundados:

Spotify “Wrapped”: 

O Spotify “Wrapped” é um fenômeno cultural que transforma dados de consumo de música em uma narrativa pessoal e envolvente. Ao apresentar aos usuários um resumo personalizado de seus hábitos musicais anuais, o Spotify não apenas cria um senso de nostalgia e autoconhecimento, mas também gera um poderoso FOMO (Fear Of Missing Out) e uma oportunidade para os usuários sinalizarem sua identidade musical nas redes sociais. 

Spotify Wrapped.
Coleção de imagens de playlists de música do Spotify destacando diferentes gêneros musicais, evolução musical e dia de áudio com cores vibrantes.

É um exemplo brilhante de como dados podem ser humanizados para criar uma experiência emocionalmente rica.

Dove “Real Beauty Sketches”: 

Esta campanha icônica da Dove utilizou a vulnerabilidade e a empatia radical para tocar em uma verdade emocional universal: a forma como as mulheres se veem versus como os outros as veem. Ao mostrar a disparidade entre a autoimagem e a percepção de estranhos, a campanha gerou uma discussão global sobre padrões de beleza, autoestima e a importância de valorizar a própria beleza. É um exemplo poderoso de storytelling que transcende o produto e se conecta com o público em um nível profundamente humano.

Campanha Dove Real Beauty Sketches. Fotografia de uma mulher sorridente em ambiente de galeria ou museu de arte, ao lado de desenhos de retratos feitos a carvão ou lápis exibidos na parede

O Neuromarketing tem demonstrado consistentemente que 95% das decisões de compra são tomadas no nível subconsciente e emocional. O storytelling, em particular, ativa áreas do cérebro relacionadas à empatia e à memória, tornando as mensagens mais memoráveis e impactantes. 

Conteúdo com alma não é apenas “bonito”; é estrategicamente eficaz porque explora os mecanismos cerebrais que impulsionam a conexão e a decisão.

O paradoxo da criatividade na IA

A relação entre IA e criatividade é paradoxal: ela pode ser um catalisador, mas também um risco para a originalidade.

Quando bem orientada, atua como amplificadora de produtividade, automatizando tarefas repetitivas e liberando nosso tempo para o pensamento estratégico e criativo. Ela ajuda a superar bloqueios, gerando ideias iniciais ou variações que servem como ponto de partida para algo genuinamente novo. 

Ao nivelar o campo de jogo, a IA permite que equipes menores e com menos recursos compitam com grandes agências, democratizando o acesso a ferramentas de ponta.

No entanto, se todos utilizamos as mesmas ferramentas de IA e nos baseamos nos mesmos dados, as saídas se tornam previsíveis. A “moeda mais valiosa” – a originalidade – é diluída em um mar de conteúdo otimizado, mas sem alma

O risco é que, ao invés de aumentar a criatividade, a IA possa, paradoxalmente, levar a uma diminuição da diversidade e da inovação genuína no mercado.

A criatividade humana de alto nível envolve o “momento Aha!”, a capacidade de fazer saltos intuitivos, de quebrar padrões e de conectar ideias aparentemente díspares. 

É um processo que a IA, por mais avançada que seja, ainda não replica. A verdadeira inovação surge da capacidade humana de pensar divergentemente, de explorar o desconhecido e de desafiar as convenções, algo que transcende a lógica algorítmica.

Alto risco, alta recompensa: lições dos fracassos criativos

A audácia sem autenticidade é um desastre. A busca por ideias não-solicitáveis e conteúdo com alma exige coragem, mas também uma compreensão profunda da marca e de seu propósito.

Pepsi & Kendall Jenner:

A campanha da Pepsi com Kendall Jenner é um exemplo clássico de audácia sem autenticidade. Ao tentar capitalizar sobre movimentos sociais complexos e importantes, a Pepsi banalizou a luta por justiça social, transformando um protesto em um mero pano de fundo para vender refrigerante. 

Kendall Jenner sorridente em uma celebração com um refrigerante Pepsi, cercada por um grupo de amigos alegres em ambiente de festa ao ar livre.

A falta de propósito autêntico e a desconexão com a realidade geraram uma reação negativa massiva, provando que a intenção, por melhor que seja, não supera a execução equivocada e a falta de sensibilidade.

Dove “Real Beauty Bottles”:

Embora a campanha “Real Beauty Sketches” da Dove tenha sido um sucesso retumbante, a tentativa de replicar o sucesso com as “Real Beauty Bottles” falhou. A ideia de criar garrafas com diferentes formatos para representar a diversidade dos corpos femininos, embora bem-intencionada, foi mal executada e careceu de empatia na tradução da ideia. 

Campanha Real Beauty Botles. Diversos frascos de shampoo Dove Deeply Nourishing alinhados em uma linha, mostrando a variedade da linha de produtos de cuidados capilares.

Muitos consumidores acharam a iniciativa condescendente e até ofensiva, demonstrando que uma boa intenção pode ser ofuscada por uma implementação que falha em compreender as nuances da percepção do público.

A autenticidade e o propósito de marca são cruciais. Marcas precisam “ganhar o direito” de falar sobre certos temas. Não basta ter uma ideia ousada; é preciso que essa ideia esteja alinhada com os valores da marca, que seja genuína e que demonstre uma compreensão profunda e respeitosa do público e do contexto cultural. 

O risco é alto, mas a recompensa de uma conexão autêntica é inestimável!

Criando prompts inteligentes para potencializar a inteligência humana

Na era da IA, o diferencial competitivo não está só nos dados ou nos modelos. Está na capacidade humana de fazer as perguntas certas — e transformar essas perguntas em prompts que desbloqueiam novos caminhos de criação, análise e estratégia.

Criar prompts inteligentes é, na prática, projetar conversas que canalizam a inteligência das máquinas para expandir a nossa. Para isso, as empresas precisam cultivar uma cultura que incentive a originalidade, a experimentação e a coragem de fazer perguntas “fora da curva” — mesmo que pareçam doidas à primeira vista.

Essa cultura não nasce sozinha. É preciso quebrar silos, incentivar a colaboração entre áreas e desenvolver segurança psicológica para que times se sintam à vontade para testar, errar e refinar seus próprios prompts. A IA pode automatizar tarefas, mas são os humanos que guiam a direção — com pensamento crítico, repertório e intenção estratégica.

Mais do que dominar ferramentas, é preciso ensinar times a pensar com a IA: a usar a tecnologia para gerar insights, provocar ideias, escalar a produção e curar o resultado final com olhar humano. Isso exige capacitação em engenharia de prompts, mas também entendimento de branding, comportamento, linguagem e negócios.

Esse processo pode (e deve) ser estruturado com um modelo prático:

Modelo de 5 passos para potencializar a inteligência humana com IA:

  1. Geração de insights potencializada por IA: utilizar a IA para analisar grandes volumes de dados, identificar tendências e gerar insights que sirvam de base para a ideação;
  2. Ideação liderada por humanos: com base nos insights da IA, as equipes humanas se dedicam à criação de ideias disruptivas, que quebram padrões e que a IA não conseguiria gerar sozinha;
  3. Produção de conteúdo assistida por IA: a IA é utilizada para escalar a produção de conteúdo, otimizar variações e personalizar mensagens, liberando os humanos para refinar a estratégia e a criatividade;
  4. Curadoria e refinamento centrados no humano: os humanos são responsáveis pela curadoria das saídas da IA, garantindo que o conteúdo tenha “alma”, autenticidade e ressonância emocional;
  5. Medição integrada (curto e longo prazo): medir o impacto das campanhas tanto no curto prazo (vendas, engajamento) quanto no longo prazo (construção de marca, lealdade), utilizando métricas que capturem o valor da criatividade e da conexão emocional.

Prompts bem-feitos são pontes — entre dados e ideias, entre eficiência e criatividade, entre tecnologia e emoção. E para que isso tudo seja valorizado, é preciso falar a linguagem do CFO: demonstrar o ROI de ideias não-solicitáveis com dados, benchmarks e estudos de caso que provam que a ousadia, quando bem executada, também gera resultado.

Não perca a alma da coisa!

A era da inteligência artificial não é uma batalha entre humanos e máquinas, mas uma simbiose. A IA eleva o valor da originalidade e da conexão emocional, tornando-as ainda mais imprescindíveis para o sucesso no Marketing. Ela otimiza, escala e personaliza, mas é o fator humano que infunde propósito, emoção e autenticidade nas mensagens.

A vantagem competitiva final pertence às marcas que compreendem e cultivam essa humanidade. A IA pode ser uma ferramenta poderosa para amplificar nossa capacidade, mas somente o ser humano decide o que realmente vale a pena dizer e sentir.

Então, líder de Marketing, como sua marca está cultivando essa “centelha humana” em sua estratégia? Este é o momento de ir além do prompt e buscar as ideias que a IA não pode gerar, o conteúdo que tem alma e a conexão que só o ser humano pode criar.

Se você quer explorar todo o potencial da sua marca, fale com a equipe de especialistas da Orgânica

Somos uma agência de Marketing Digital especializada em fazer suas ideias virarem resultados incríveis. 

Você quer aumentar suas vendas através do Marketing Digital?

Receba gratuitamente o Diagnóstico Content+Performance, ametodologia de Marketing Digital da Orgânica!

Você quer
aumentar suas vendas
através do Marketing Digital?

Receba gratuitamente o Diagnóstico Content+Performance, a
metodologia de Marketing Digital da Orgânica!

Newsletter

Novidades de Marketing todos os dias no seu e-mail? Aqui!

Assine nossa newsletter e receba novos posts direto na sua caixa.

Newsletter

Novidades de Marketing todos os dias no seu e-mail? Aqui!

Assine nossa newsletter e receba novos posts direto na sua caixa.